Muitos produtores alegam que fazem vinhos a partir de “Vinhas Velhas”, e que por isto seus vinhos são melhores. Desta forma, “Vinha Velha, ou no inglês "Old Vine" é um termo que chama a atenção no marketing de vinhos nos dias de hoje, mas o que queremos saber é se essas vinhas antigas realmente fazem um melhor vinho.
No mundo do vinho, uma garrafa de safra antiga ou um vinhedo centenário geram verdadeira devoção, por serem testemunhas da passagem do tempo, revelando uma história renovada a cada safra, ou a cada gole!
Mas antes de mais nada, outra pergunta que não quer calar, é o que se chama de “Vinha Velha”?
Se lembrarmos que por volta de 1850 a vitivinicultura mundial viveu uma de suas piores crises – com regiões inteiras sendo devastadas pela filoxera, que dizimou vinhas e chegou a levar algumas castas à extinção, as parreiras mais antigas não tenham muito mais de 150 anos, uma vez que o replantio atingiu a maior parte da Europa.
Na verdade, tecnicamente, não existe uma definição padrão de qual idade classifica uma videira como sendo "antiga" ou “velha”. 40 anos tende a ser a regra geral, mas alguns comerciantes se esgueiraram até 25 anos, enquanto outras áreas de produção podem usar 60 anos ou mais.
Um cuidado neste assunto é que se a vinícola não revelar sua definição de vinhas antigas, no contra-rótulo de seu vinho, ou em seu site, isso provavelmente é um mal sinal.
Os vinhedos antigos, com mais de 40 anos de idade, por exemplo, são formados por vinhas que são muito "equilibradas", o que significa que sua folhagem, suas raízes e sua estrutura produzem naturalmente uma quantidade de uvas que a planta pode amadurecer em boas condições. Isso resulta em rendimentos limitados de uvas, mas sempre consistentes e de alto nível de qualidade.
Estas uvas são as mais adaptadas ao clima, e nesta área, isso significa que geralmente são bagas pequenas com peles grossas e em cachos mais soltos. As peles grossas contribuem na intensidade da cor do vinho e nos aromas complexos, e os cachos mais soltos tendem a ser mais saudáveis. A condução da planta permite cultivar os cachos no interior de folhagem onde recebe sol necessário para o amadurecimento perfeito da uva, mas não em excesso.
Vinhas velhas têm sistemas radiculares que cresceram lateral e profundamente em uma ampla área de solo. Esta é a chave para adaptar-se a diferentes condições climáticas todos os anos, enquanto ainda produz o mesmo nível consistente de qualidade. Dependendo do tipo de solo, as raízes têm entre 1,5 a 2,0 metros de profundidade.
As videiras antigas também são capazes de produzir uvas com mais caráter local, pois são capazes de extrair nutrientes de solos profundos, gerando vinhos com mais concentração, cor, intensidade aromática e personalidade que refletem a região, e em alguns casos o terroir específico. Geralmente estes vinhos amadurecem muito bem no barril e depois na guarda em garrafa. Os seus taninos generosos são maduros e redondos.
E muito importante, a qualidade desses vinhos é muito consistente de ano para ano. Por exemplo, na Espanha, em climas mais extremos onde as vinhas são cultivadas a seco em regiões acima de 500 metros de altitude, as castas Garnacha e Carinena são as variedades mais adaptadas a essas condições e são capazes de viver e produzir além dos 100 anos de idade.
Além disto, as vinhas cultivadas em seco (que não recebem mais irrigação), dependendo exclusivamente do regime de chuvas da região, estão melhor adaptadas. Como elas sempre tiveram níveis de produção naturais e constantes e nunca são forçadas a produzir mais (através da irrigação), elas aprendem a se auto-regular de acordo com as condições climáticas. Ao agrônomo e enólogo cabe resistir à tentação de produzir mais, o que pode e acontece quando você irrigar as vinhas.
As vinhas mais velhas do mundo
Duas vinhas disputam o título de mais antigas do mundo. Já tive a oportunidade de visitar a primeira, que fica em Maribor, na Eslovênia. Sua idade é estimada em mais de 400 anos. Ela produz cerca de 35 a 55 quilos da variedade Žametovka por ano, que são vinificados para produzir pequenas garrafas (187ml) dadas de presente para celebridades que visitam a cidade. Portanto, não consegui comprar nenhuma!
Maribor, na Eslovênia
A segunda vinha fica na região do Tirol, na Itália. Os proprietários do secular Castel Katzenzungen dizem possuir a vinha mais antiga. Dizem que ela tem mais de 600 anos, apesar de um estudo ter calculado a idade em 350 anos. Assim como a videira eslovena, ela produz pouco, cerca de 500 garrafas numeradas.
Castel Katzenzungen, Tirol, na Itália
Em resumo, as “vinhas Velhas” tem potencial para produzir grandes vinhos, e se tiver chance, não deixe de prová-los.
Saúde!
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