Obra de Francisco da Silva de 1973 pertencente ao acervo deste colunista
Sempre tive boa memória e diversos fatos que permearam minha primeira infância, continuam vivos em minha mente. Aos quatro anos de idade saí, acompanhando meus pais que à época eram funcionários públicos federais, de minha cidade natal Campo Grande – MS.
Com cerca de 5 ou 6 anos de idade, estávamos morando em uma pequena cidade do Rio Grande do Norte (Alexandria), onde tive a honra de ver descoberta a então maior Água Marinha do Mundo, encontrada numa cidadezinha ali perto chamada Tenente Ananias (tema este de um próximo artigo).
Meus pais em especial minha Mãe, faziam diversos cursos nas capitais da região nordeste do país, além de viajarmos por aquelas bandas sempre que possível, gozando eu desde pequeno desta sorte de conhecer o Brasil.
Eu amava o mar, construções antigas, museus e estes eram na maioria das vezes os locais que frequentávamos quando estavam de folga e foi em Fortaleza que me deparei ainda muito jovem, com o trabalho de Francisco da Silva.
O artista plástico Francisco da Silva
Obra de Francisco da Silva pertecente ao Museu de Arte Popular Brasileira
Como toda criança de inteligência mediana, nada entendia sobre arte, mas aquele trabalho colorido, de traços marcantes, com representações de galos, dragões e uma série de outros animais ficou marcada em minha mente. Sua história, confesso, vim a saber já na fase adulta, quando participando de um leilão de arte fui remetido àquelas lembranças da infância, enquanto uma obra estava em pregão, o que me atiçou a curiosidade e me fez buscar sua história e por consequência recordar ainda mais daqueles momentos felizes que tive em companhia de meus pais e de súbito arrematei-a para minha coleção.
Obra do acervo particular deste colunista
Francisco Domingos da Silva, também chamado por "Chico da Silva" ou "Xico da Silva" foi um importante pintor e desenhista brasileiro falecido em 1985 na capital do Estado do Ceará. De acordo com sua biografia, começou a desenhar a carvão e giz sobre muros e paredes de casebres de pescadores por volta de 1937, em Fortaleza (Ceará). Na década de 40, sob o incentivo do crítico e pintor suíço Jean Pierre Chabloz, iniciou-se na pintura à guache e juntamente com Chabloz, Antônio Bandeira e Inimá de Paula (consagrado artista plástico mineiro), expôs na Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro, em 1945.
Entre 1961 e 1963, trabalhou no recém-criado Museu de Arte da UFCE. Depois de permanecer quatro anos internado em um hospital psiquiátrico, voltou a pintar em 1981.
Seu trabalho, era marcado fortemente pelo uso da imaginação soltando suas vivencias amazônicas (nasceu na riqueza amazônica na cidade de Alto Tejo no Acre), predominando a fauna e seres mitológicos.
A crítica de sua arte pode ser observada neste trecho de Jean Pierre Chabloz. "(...) Partindo do arcaísmo mais puro, o pintor da praia tornava-se clássico, barroco, impressionista, e enfim moderno e até mesmo surrealista, se posso usar tais nomenclaturas a propósito de uma arte tão espontânea e que sempre permaneceu essencialmente primitiva, apesar das oscilações (...)".
Contemplando a obra com a mesma curiosidade da infância
Atualmente seu legado está em diversos acervos particulares e em museus espalhados pelo Brasil e pelo mundo, sendo reconhecido em seu estilo Naif (conceito que designa a produção de artistas autodidatas que desenvolvem uma linguagem pessoal e original de expressão), como uma das grandes figuras da arte popular de nosso país.
Matéria de David Faria para o Jornal @espacohorizonte
Parabéns pela matéria!