Gravura de autoria desconhecida sobre a Retirada da Laguna
Filho de funcionários Públicos Federais, vivi a infância em constantes mudanças ante as transferências sucessivas de meus pais. Um dos locais que morei foi Guia Lopes da Laguna, cidade que junto a Bonito e Jardim, integram o Parque Estadual da Serra da Bodoquena no Mato Grosso do Sul. Por coincidência minha mãe nasceu em Jardim e naquela época ainda podíamos nos banhar na “gruta do lago azul” na cidade de Bonito o que há um bom tempo é proibido, porem tive esta sorte.
Minha bisavó Assunção Valdez, paraguaia, que orgulhava-se em dizer que havia sido “Presidenta do Partido Colorado”, além de uma “Parteira diplomada”, o que à época, certamente era algo extraordinário – era a parteira de toda aquela região, conhecia muitas pessoas e centenas delas nasceram por suas mãos (pasmem - acreditam que conheci aqui em Minas duas pessoas que nasceram por seu auxilio, o que me deixou muito honrado diante do respeito e admiração que lhes foram dispensados, e tudo por conta do meu sotaque e por dizer orgulhosamente que sou do MS iniciaram tais assuntos).
Foi ela que com sua paciência e amor me ensinou espanhol e guarani e foi e continua sendo a referência de toda nossa família como o exemplo de coragem, força e determinação e todos os dias sinto uma falta imensa de sua companhia.
Era ela quem me contava histórias fascinantes, do tempo da revolução no Paraguaio, das “onças de ouro e libras esterlinas que ficavam escondidas em um pescoço de ema” (ave enorme parecida a um avestruz comum na região), das receitas que aprendeu no internato (entre elas a Crema Catalana que preparo no Ajê ) como também àquela que teria dado origem ao nome da cidade onde morei: “O guia Lopes”, recordações estas, muito pertinentes para este mês de março, quando o fim da guerra do Paraguaio completa 153 anos.
Ponte sobre o rio Miranda que separa as cidades de Guia Lopes da Laguna e Jardim e onde na infância, por diversas vezes subi os arcos e pulei no rio.
A Guerra do Paraguai foi um conflito que aconteceu de dezembro de 1864 a março de 1870 e colocou o Paraguai contra Brasil, Argentina e Uruguai. A guerra foi resultado do choque de interesses políticos e econômicos que as nações platinas possuíam durante a década de 1860. Ao longo dos anos de conflito, o grande prejudicado foi o Paraguai, que teve sua economia arrasada. Estima-se que o total de mortos de acordo com as diferentes estatísticas seja de 130 mil a 300 mil, dentre estes, muitos jovens com menos de 15 anos de idade, que integraram o exército paraguaio.
Dentre os personagens do conflito está aquele que deu nome à cidade onde vivi: José Francisco Lopes. Mineiro de São Roque de Minas, e que há anos vivia na região de fronteira, na cidade de Bela Vista.
Lopes, alistou-se voluntariamente no exército brasileiro e foi o responsável por guiar as tropas na região. Chefiadas por Carlos de Morais Camisão e guiadas por Lopes, as tropas brasileiras conseguiram penetrar o território paraguaio até Laguna, em abril de 1867, o que foi um verdadeiro fracasso.
Na fuga, a atuação de Lopes guiando as tropas brasileiras foi importantíssima para impedir que os soldados fossem todos massacrados pelos paraguaios, que utilizavam táticas indígenas de guerra. “O Guia Lopes” mostrou os caminhos aos soldados brasileiros pelas terras sul-mato-grossenses e despistou o inimigo em um terreno difícil neste episódio, chamado historicamente de Retirada da Laguna. Entre os brasileiros estava o Visconde de Taunay, que mais tarde escreveria um livro sobre o assunto.
Capa do livro do Visconde de Taunay sobre o episódio histórico que participou
Foi por sua providencial e decisiva participação num dos mais dramáticos episódios da Guerra do Paraguai, em 1867, que José Francisco Lopes (1811-1867) entrou para a galeria dos heróis cultuados pelo Exército Brasileiro, e conquistou seu lugar nas páginas da história do Brasil.
Para Refletir:
“Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento.” (Clarice Lispector)
Nota deste colunista: Ter medo de arriscar coisas novas, se abrir para outros lugares, olhares e ideias é normal. O legal é entender que isso é a vida, e as experiências estão aí para serem vividas.
Interessante este episódio da Guerra doo Paraguai , ou " Genocídio Paraguaio "