No processo de orientação de Confrarias de Vinho tenho me deparado com perguntas interessantes sobre a questão “safra do vinho”.
Há perguntas de todo tipo, tal como até que ponto uma safra importa na qualidade do vinho ? Porque vinhos de safras diferentes têm preços diferentes ? Melhor beber vinhos jovens ou melhor bebê-los maduros ?
Então, vamos tentar esclarecer alguns pontos desta questão. A primeira delas vem a ser o que quer dizer “safra”. É o período compreendido entre o preparo do solo para o plantio até a colheita de determinada cultura. Em Portugal a colheita das uvas é tão importante que a palavra elegida para definir esta atividade é “vindima”. Como a floração, o desenvolvimento dos cachos de uvas e colheita se dá no mesmo ano, safra portanto, descreve todo este processo.
Em alguns anos as condições climáticas favorecem a melhor formação e maturação dos cachos e bagos, e têm-se a possibilidade de produção de grandes vinhos, criando o conceito de safras excepcionais. Além disto, há o ditado que “quanto mais velho, melhor!”, mas se o vinho for de uma safra medíocre, “quanto mais velho, pior será !”. A idéia de que um vinho antigo é melhor e mais valioso é tão aceita quanto o fato de que sua qualidade estar associada ao preço que se paga pela garrafa.
O que é importante é mostrar que vários “ditados” na realidade não condizem com os fatos que podem apurados nas provas de vinhos. Como trabalho com degustações “ás cegas”, nas quais os vinhos são provados sem saber o que está sendo bebido, há a vantagem de não ser criado nenhum pré-conceito em relação a garrafa que está sendo servida. As degustações às cegas são verdadeiras provas de humildade, nas quais muitas vezes um vinho de valor mais acessível ganha o gosto dos participantes na degustação, provando muitas vezes que nem sempre o mais caro é melhor.
De longe, a razão mais importante e impactante para que um vinho fique diferente a cada ano é o clima, pois numa mesma região, num mesmo vinhedo, é comum que elas possam variar ano após ano. E mais difícil ainda as condições climáticas (especialmente o regime de chuvas e temperatura) sejam perfeitas em todos os anos. Assim, o homem procura adaptar os vinhedos as estas condições regionais específicas, plantando clones mais propícios evitando os problemas que o clima pode causar. O excesso de chuvas deixa a polpa da uva muito diluída, enquanto que temperaturas muito baixas não permitem que a fruta amadureça de forma eficiente. Assim sendo, podemos dizer que os vinhos de regiões de clima instável sofrem muito mais alteração ano após ano do que de regiões mais estáveis e previsíveis como Mendoza, onde chove menos de 300mm por ano.
Existem outros fatores que influenciam a qualidade do vinho a cada ano. A atuação do enólogo pode fazer toda a diferença na qualidade final do vinho, mesmo que o ciclo da videira não tenha sido o esperado, a verdade é que as técnicas de produção têm-se desenvolvido favoravelmente.
Vinhos mais baratos e de marcas mais populares, com processo de produção em grande escala industrial, apresentam pouca ou quase nenhuma variação entre uma safra e outra. O processo dificilmente muda de um ano para o outro e os produtores utilizam de artifícios que compensam problemas que podem ter sido causados durante a safra, tais como a evolução do ciclo da videira, regime de chuvas, temperaturas extremas, e assim por diante.
Uma boa forma de aprender avaliar as variações entre as safras é degustar vinhos maduros junto com vinhos mais jovens. As frutas maduras dos vinhos jovens vão cedendo espaço para aromas etéreos, de couro, defumados, tabaco, café, mostrando a complexidade do bouquet formado pela guarda na garrafa.
Recentemente provamos numa degustação os vinhos Chateau Latour Malartic Pessac-Leognan 96, Seña 96, Alion Vega Sicilia 97, Ser Giovetto Roca della Macie 97, Cabo de Hornos 98, Crozes Hermitage Domaine des Remizieres 98 como safras maduras, junto com o Guado al Tasso 2007 e Excelsus Banfi 2009 como safras novas.
Ao final da noite, às cegas, por votos, o vinho Chateau Latour Malartic Pessac-Leognan 96, com 18 anos de guarda, tendo atingido sua plena maturidade foi eleito como o melhor da noite. Na realidade, todos eram vinhos excelentes, mas ele cresceu ao longo do tempo em taça, revelando nuances de aromas e complexidade além das expectativas. Em paralelo aos votos no final da degustação, preenchemos uma ficha de anotações e estatísticas, e fazendo o resumo destas avaliações, o Guado AL Tasso 2007 atingiu a mesma nota do Latour Malartic, com 92 pontos. Prova que o Guado AL Tasso tem muito a crescer com a guarda.
No final das contas, avaliar a importância da safra também depende do nível de conhecimento do degustador, do volume de vinho que degustou ao longo da vida, percebendo as diferenças entre regiões e sutilezas de cada safra, e ainda da intenção de cada produtor. É claro que enólogos ou entusiastas, que estudam as regiões e seus vinhos, vão procurar entender as diferenças e comparar cada ano em particular, elegendo as melhores safras.
Por outro lado, se você só quer degustar o vinho com uma refeição ou enquanto relaxa com uma boa companhia, a safra não precisa ser um motivo de preocupação. As diferenças para vinhos do dia-a-dia não são tão significativas e o consumidor em geral não conseguirá perceber as nuances se não tiver duas ou mais safras ao mesmo tempo para comparar.
De qualquer forma, fica o convite para você buscar perceber estas nuances e ir aprofundando seu conhecimento em vinhos.
No mais é provar e brindar!!! Saúde !!!
(Baseado em artigos da internet)
Contatos: Márcio Oliveira - contato@vinoticias.com.br
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