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Saudade já é algo bastante complicado para eu complicar ainda mais




Enquanto escrevo este artigo, o sigo embalado em hits dos anos de 1995 e o mesmo toma outro rumo pois um misto de sentimentos me consomem, sobretudo a saudade, que já é algo bastante complicado para que eu complique ainda mais e se resume em um trecho de Clarice Lispector que diz: “Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida. Quando vejo retratos, quando sinto cheiros, quando escuto uma voz, quando me lembro do passado, eu sinto saudades… Sinto saudades de amigos que nunca mais vi, de pessoas com quem não mais falei ou cruzei…Sinto saudades do presente, que não aproveitei de todo, lembrando do passado e apostando no futuro…Sinto saudades do futuro, que se idealizado, provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser…Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram.


As músicas me remeteram ao tempo em que minhas preocupações se resumiam aos estudos... muitos estudos. Além da escola, 3 vezes por semana atravessava contrariado a grande avenida que separava meu bairro ao da casa da Professora Rose Antaki (a quem dedico estas lembranças) com quem estudei durante quase uma década os idiomas: árabe, francês e inglês. As aulas eram particulares, eu não tinha nenhum colega apenas aquela senhora enérgica e sábia que era minha mestra e a princípio aquilo me era torturante, principalmente quando tinha ditados (que eram semanais), porém toda aquela sabedoria foi aos poucos me encantando.


Nascida na cidade de Alepo, filha de mãe grega e pai sírio, tinha o árabe como sua língua natal em conjunto com o inglês (segunda língua oficial do país), contudo a comunicação de seus pais dentro de casa, era o francês vez que sua mãe não dominava os demais.

Com ela além dos idiomas aprendi muito da cultura e dos costumes, o uso de temperos e especiarias. Sinto agora o sabor do café que ela preparava com cardamomo e de todo aquele rito que se seguia ao final de cada aula que foi agregada quase sempre de uma receita. Em uma lição francesa havia a imagem de um “gigot roti” (pernil assado) e ela me ensinou o que faço até hoje com cordeiro. Nas lições de árabe tinham tantas imagens de passeios e piqueniques com comidas fabulosas que eu sempre curioso perguntava o que era com intuito dela fazer e eu provar. Os doces, quase sempre regados com calda de rosas eram meus preferidos... há que saudades!


Fico pensando, quanto mais eu podia ter aprendido... e novamente, “clariciano” declarado que sou “ é por isso que eu tenho mais saudades…Porque encontrei uma palavra para usar todas as vezes que sinto este aperto no peito, meio nostálgico, meio gostoso, mas que funciona melhor do que um sinal vital quando se quer falar de vida e de sentimentos. Ela é a prova inequívoca de que somos sensíveis! De que amamos muito que tivemos e lamentamos as coisas boas que perdemos ao longo da nossa existência…


Usemos o tempo ao nosso favor, vivamos nossas vontades e desejos, bebamos na taça da vida enquanto ela ainda está cheia!

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