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Vacinação de covid-19 em pacientes oncológicos



Vacina é a única forma eficaz de proteger a população contra doença devastadora


André Murad é oncologista, diretor executivo da Personal Oncologia de Precisão e Personalizada e Oncogeneticista no Centro de Câncer Brasília / Cettro. É também pós-doutor em genética, professor da UFMG, pesquisador, diretor científico no Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão: GBOP. Exerce a especialidade há 30 anos e é um estudioso do câncer, de suas causas (carcinogênese), dos fatores genéticos ligados à sua incidência e das medidas para preveni-lo e diagnosticá-lo precocemente.

Muitos pacientes oncológicos têm relatado dúvidas sobre como será a vacinação de covid-19 para esse grupo. Conforme o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação Contra a Covid-19, divulgado em dezembro, pessoas imunossuprimidas, como aquelas com câncer, devem receber a vacina na 3ª fase da campanha, que incluirá ainda outros pacientes com morbidades a exemplo da diabetes mellitus, hipertensão arterial grave, doença pulmonar obstrutiva crônica, doença renal, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, indivíduos transplantados de órgão sólido, anemia falciforme e obesidade grave (IMC≥40).

A 2ª fase, por sua vez, prioriza pessoas de 60 a 74 anos; enquanto a 1ª, em operacionalização atual, inclui os trabalhadores de saúde; as pessoas de 75 anos ou mais; as pessoas de 60 anos ou mais institucionalizadas (ou seja, que vivem em instituições de acolhimento, como asilos); população indígena aldeada em terras demarcadas, povos e comunidades tradicionais ribeirinhas, pessoas maiores de 18 anos com deficiência em residências inclusivas.

Apesar de o tipo de tumor e tratamento alterar o risco de mortalidade de covid-19, até então, não há nenhuma informação ou declaração oficial de que isso será usado para diferenciar os pacientes oncológicos entre si. Sabe-se que pessoas que estejam em tratamento com quimioterapia, radioterapia, corticoterapia (corticoides), imunossupressores em geral, pacientes hematológicos ou que foram submetidos a transplante de medula óssea têm o sistema imunológico mais debilitado e, por isso, podem contrair o coronavírus e desenvolver a COVID-19 com mais facilidade, apresentando também maior mortalidade.

Os pacientes hematológicos (leucemias e linfomas), por exemplo, têm as células de defesa comprometidas pelo tratamento. As terapias com corticoides deprimem a resistência, alteram o sistema imunológico e, por isso, há risco de contágio e de infecção mais grave.

Já a quimioterapia diminui a função e muitas vezes a quantidade de células de defesas como linfócitos, plasmócitos e macrófagos. Essas células de defesa atuam como uma parede protetora que impede o vírus de entrar no organismo. Então, se a pessoa está em tratamento com essas drogas, essa função apropriada das células imunológicas fica comprometida.

Além disso, o próprio câncer pode influenciar no quadro do coronavírus. O câncer hematológico, por exemplo, pode alterar e reduzir a quantidade ou modificar a função das células de defesa, como macrófagos e linfócitos T e B.

Os pacientes oncológicos devem se vacinar, desde que não seja com vacinas feitas com vírus vivos atenuados ou com vetor de replicação competente. Como a imunidade dessas pessoas pode estar muito comprometida, esse tipo de imunizante pode causar infecção. Assim, a vacina CoronaVac é a mais indicada, justamente por ser feita com vírus inativado, conforme se pronunciou a Sociedade Brasileira de Oncologia – SBO em seu guia de vacinação da Covid-19 em pacientes oncológicos.

A análise de risco dos pacientes oncológicos e a indicação de qual vacina poderá tomar deverá ser feita pelo médico responsável pelo tratamento, sendo observadas o tipo de tumor, o atendimento ao grau de imunossupressão, conforme os perfis de tratamento acima e, ainda, a outros critérios clínicos associados, como idade avançada, hipertensão severa, diabetes, obesidade, antecedente de doenças como infarto ou trombose.

É importante observar também que pessoas com histórico de reação alérgica imediata (hipersensibilidade, urticária, angioedema, dificuldade respiratória, que ocorram quatro horas após a exposição) a qualquer componente das vacinas não devem ser vacinadas. Além disso, as pessoas que desenvolvem reações alérgicas graves, como anafilaxia, após uma primeira dose das vacinas, não devem receber uma segunda dose.

Com informações o suficiente, agora nossos pacientes podem esperar a vez de se vacinarem tranquilos. Finalizo parabenizando aos nossos pesquisadores, cientistas, profissionais e voluntários que participaram do desenvolvimento e aprovação das vacinas. Um viva à nossa ciência!

Fale com oncogeneticista: envie um e-mail para:


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